Crítica literária


Crítica literária do livro "A visita cruel do tempo" 

"A visita cruel do tempo"  é o 4° livro da escritora e contista Jennifer Egan. E já deixo claro que não é um livro comum, com heróis ou mocinhas. Não tem uma narrativa linear. Não tem uma ordem cronológica. O livro não conta com uma personagem principal, essa função fica para o tempo. É uma obra literária minimalista.

O livro mostra a transitoriedade da vida. O passar do tempo na vida de jovens da década de 1970, amantes do rock y otras cositas más (coisas ilícitas). As histórias se passam entre 1970 e 2030 e conceitos filosóficos são dramatizados de forma sutil nas personagens, porém, analisados de forma profunda chegam a ser bem intensos. O enredo não possui muitas ações e emoções e as personagens não são exploradas totalmente. É uma dança de personagens na sua frente e você fica apenas parado vendo o transitar delas. 

O passar dos anos é bem cruel com algumas personagens que, em dado momento, resolvem sair do limbo do esquecimento e voltar à luz, como o General, La Doll, Kitty, Scotty, entre outros. A música é o plano de fundo de praticamente todos eles. O universo deles é a música, embora não seja um livro musical.

É um livro com o qual, você, definitivamente, não pode se distrair. Sua atenção precisa estar voltada para a multidão de personagens que vão surgir e sumir repentinamente assim como entraram na narrativa, porém, precisamos decorar os nomes delas para compreender a complexa e fragmentada narrativa. Presente, passado, futuro, vozes em 1ª , 2ª e 3ª pessoa se misturam drasticamente e se você não estiver atento pode se perder e ter que voltar algumas páginas para entender alguns elementos. 

Os 13 capítulos, em termos, não são sequenciais, cada um narra uma passagem de uma personagem, ou várias. Até a página 97 (capítulo 6), eu ainda não tinha entrado na história, devido ao estilo conto. Não consegui me apegar a ninguém, de certa forma isso é quase impossível em toda a narrativa. 

Egan imprimiu vários estilos literários neste livro. Ela mesma confessou ter tentado escrever um capítulo em forma de poema, porém acabou desistindo por não se considerar uma boa poeta. “É importante identificar no que somos bons ou não, e autocritica é essencial para o amadurecimento pessoal e profissional.”

O livro possui uma narrativa bem engenhosa, em alguns capítulos demorei bastante a identificar a personagem daquele trecho, exemplo do capitulo 6, que só na quarta página descobrimos de quem se trata. É uma miscelânea boa para a memória. As personagens se questionam e supõem demais, chegam a oscilar entre as décadas num só parágrafo. Sascha é a personagem que aparece mais vezes, sendo 4 capítulos dedicados à secretária de Bennie Salazar. 

O capitulo 7 foi uma grata surpresa, em que Stephanie apareceu e me conquistou. Os vários diálogos ajudaram nesse processo de envolvimento e a leitura se tornou leve e fluida. Seria ótimo se todo o livro fosse prazeroso e envolvente. Alguns capítulos vão deixar uma sensação de que não acrescentaram nada e, realmente, é verdade. Os capítulos 3 e 4 foram os menos interessantes.

O capitulo 8 é o meu favorito. Nele aparecem La Doll, Lulu, Kitty e um general, que dão fôlego a esse trecho com fortes emoções. La Doll tenta humanizar o tal General genocida, e as páginas passam sem percebermos.

O penúltimo capitulo é narrado por uma garota de 13 anos, em forma de slides (estilo Power Point). É o ápice da estrutura literária, sendo um ponto muito original e arrojado. 

Não é um livro muito sentimental. Notei uma pequena dose apenas no último capítulo, que chega a ser eletrizante dentro do “mar-morto” que é a história de modo geral, ou seja, comover-se fica por sua conta. 


"A visita cruel do tempo"  não é um livro apenas para ler, você precisa refletir e amarrar os capítulos para compreender a real intenção de Egan. É um romance psicológico, sem núcleo definido. Não há trajetória definida, é uma experimentação literária que realmente valeu o Pulitzer que ganhou, porém, como enredo em si eu não daria 5 estrelas, o livro não me envolveu, talvez devido às tantas fragmentações. Achei o enredo mínimo, porém de forma geral o livro traz um enfoque 'interessante' sobre o passar do tempo. É um livro sem muitas reviravoltas. Não há personagens para nos atermos, justamente pelo estilo de contos, e, devido a isso, não é possível desenvolver um sentimento mais profundo pelas personagens.

O tempo passa e às vezes não percebemos o peso das horas, dias, meses, anos, porém, um dia despertamos e, às vezes, não é fácil encarar esse processo. Ao final esse shake de contos, recriam uma forma única e passam a nos dar um sentido maior. Não há como negar que é uma escrita perfeita, inovadora, arriscada e magnífica, mas no quesito cativar, ficou aquém e não há nada de extraordinário na vida das personagens. Confesso que cheguei ao livro apenas pelo nome, gostei bastante do título. Quem sabe, relendo, ele possa me parecer excepcional.


"A visita cruel do tempo"  é o premiadíssimo romance de Jennifer Egan. E ele foi objeto da minha primeira Crítica Literária. Em nenhum momento quis tirar esse mérito, são apenas minhas pontuações sobre o livro. 



PONTOS POSITIVOS:
- É um livro cult;
- Inovador na parte estrutural;
- A narrativa é bem construída;
- Não tem personagens arquétipos;
- Não é um livro construído sobre paradigmas da literatura atual, pelo contrário, ele desconstrói a fórmula atual de uma forma bem interessante. 

PONTOS NEGATIVOS:
- Não é um livro que prende extremamente o leitor; 
- Se você gosta de livro com início, meio e fim e cheio de aventuras, este será o menos recomendado;
- Não possuí ápice - eu particularmente gosto;
- Narrativa morosa e pouco instigante.







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1 comentários

9 de janeiro de 2016 às 11:27

Você já leu este livro? Conte-nos o que você achou. :)

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