Sobre Vivência

Por Lorrayne Saraiva

Há um jogo de palavras na nossa primeira crônica: Sobre Vivência... sobrevivência, que nos leva a uma reflexão sobre o passar do tempo.

Sobre viver. As vezes, é um desagrado. Perturba e faz doer. Não cabemos nessa roupa apertada - que nada mais é, do que o corpo que habitamos - não cabemos em nossas extremidades. E é então, que tudo se esvai.

E sobre existir? Qual o maior pecado em existir? É simplesmente não fazê-lo.

Negar a existência pode ser uma armadilha. Um caleidoscópio de cores mal construídas. Um terremoto na área mais delicada da questão.

Sem dúvida, viver é para os valentes. Mas e os que não são intrépidos, vigorosos e robustos? O que sobrou para essa gente? Uma inautêntica vida? Será mesmo que a vida é um presente apenas para os destemidos? Pois eu digo que não há coragem maior do que assumir a própria covardia. Estas reticências e embaraços, que nos acometem em cada centímetro de presença. É preciso ser muito macho, para não ser macho.

Apenas peço para que não acredite muito em mim. Sou a dúvida. E sendo como ela, me divirto percorrendo suas noites, e seus momentos da mais pura concentração. Te tiro a certeza que lhe faz um afago, mas em troca te dou algo muitíssimo mais valioso... O ato de pensar.

É na dúvida que ponderamos realmente o peso das coisas. É na dúvida que medimos nossa capacidade e a capacidade do que nos traz a ânsia. É somente na dúvida, que podemos desfrutar de uma certa racionalidade imparcial sobre todos os sentimentos que existem em nós. E é com esse material, que se dá nossas avaliações finais.

Quando cresci, descobri que vida é o que acontece quando piscamos. Naquele nano segundo, é que tal fenômeno ocorre. É purpurina e autenticidade. É o que nos move no inesperado dos dias calmos, rotineiros e desavisadamente ruins. É o que perpetua a espécie. Pois, não conheço ninguém que queira ser perpétuo por si só.

Não nos preocupemos com coisas que são trabalho do universo. Cedo ou tarde, ele resolve. Não ficaremos encrencados para sempre. Ouso a dizer, que se você colocar um microscópio em seu problema, verá que ele não é letal, como você pensava que fosse. Ele não é fatal, e não te levará para o túmulo. Existe cura para ele. Calma... E não existe melhor antibiótico do que o tempo.

Levantemos essas cabeças, pobres mortais desconsolados! Vamos deixar - apenas por um breve momento - que nosso drama adormeça, e que nossa vontade de pagar para ver acorde. Para que mais então estaríamos aqui, se não fosse por essa vontade de pagar para ver?

O que você me diz?
Finalmente vai tentar ser feliz?


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2 comentários

7 de janeiro de 2016 às 18:04

Às vezes, para viver bem, é preciso nos reconhecer como seres humanos cheios de medos e temores. E como isso é difícil, como você disse "é preciso ser muito macho, para não ser macho". Parabéns, ótimo texto.

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7 de janeiro de 2016 às 18:04

Às vezes, para viver bem, é preciso nos reconhecer como seres humanos cheios de medos e temores. E como isso é difícil, como você disse "é preciso ser muito macho, para não ser macho". Parabéns, ótimo texto.

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