Por Lorrayne Saraiva |
Minhas paisagens externas quase não mudavam, mas eu fora abençoada com cenários internos diferentes, todos os dias. Dentro de mim, cada novo dia eu acordava em um lugar diferente. A cada novo dia, dentro de mim, eu tinha um novo figurino e um novo corte de cabelo. Mesmo que por fora nada fosse percebido, por dentro, a cada novo dia, eu renascia outra.
Os que me rodeavam nunca suspeitaram de nada. Por fora, tudo igual. Por dentro, aventuras e novas soluções. Eu era um mundo, dentro do mundo. Disso ninguém nunca me salvou. Isso ninguém nunca entendeu.
Os outros padeciam de uma eterna monotonia. Mesmo que viajassem, atravessassem países e fronteiras, aeroportos e lojas de souvenires... Por dentro, nunca nada acontecia. Eles amanheciam os mesmos todos os dias. Ainda que ousassem em um novo corte de cabelo, a mudança interna, o diferencial, permanecia silencioso. Cuidavam apenas dos cenários externos, as paisagens internas, morriam sem ter quem as regasse. Ao poucos, iam atrofiando-se pois o mundo novo já não lhes bastava. As novidades que os cercavam, já não lhe alimentavam a alma. O resto do vasto e infinito universo, não lhes surpreendia mais. Unicamente pois não sabiam mudar suas paisagens de dentro.
Imaginação. A mente cria, o corpo aceita. Saíam de casa, e o corpo murchava ao ver a mesma rua que viam todos os dias. Em vez de ver a mesma rua todos os dias, por que não viam uma rua onde um importante músico passou? Ou uma rua onde amantes míticos viveram seus primeiros beijos? Porque encarar a rua como sendo a mesma rua de todos os dias? Por que não imaginar, e mudar o cenário de dentro para fora?
Não estou dizendo para sermos lunáticos, e sairmos por aí acreditando em unicórnios rosas, mas em meio à tanta correria e realidade do dia-a-dia, a vida acaba se apresentando pronta para nós. Na mão, de bandeja. Filmes prontos. Novelas preparadas. E absolutamente nada, nos encoraja a enxergar além do óbvio. O quão diferente não seria nossa rotina, se todos os dias, não nos condicionássemos a enxergar um pouquinho mais além do óbvio? Do concreto?
Voar de vez em quando faz bem. E não adianta apenas voar por companhias aéreas, é preciso deixar o espírito elevar-se, e presenteá-lo com uma volta, de vez em quando.
Como já disse, não sou de viajar, de fazer mala e de carimbar passaporte, mas ninguém, absolutamente ninguém, pode dizer que não conheço outros mundos...